quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Matemática e Linguagem: um diálogo possível e promissor

Um olhar sobre a matemática, a escola e a sociedade


No nosso dia-a-dia, nas salas de aula, em nossas casas, nas mesas de bares, nos mais diversos lugares, torna-se “lugar comum” ouvirmos comentários do tipo: “A matemática é pra poucos”, “A matemática é abstrata”, ”A matemática é a ciência exata”, “A matemática desenvolve o raciocínio lógico”. Até nos acostumaríamos com essas frases, se elas não nos doessem, nos gritassem e nos indicassem os sintomas de algo crônico e profundo. Como uma ferida cálida a nos incomodar. E, talvez o pior, é bem provável que pratiquemos essas idéias, ou talvez venhamos a praticá-las.
O que é verdade? O que é mito? Todos temos condições de aprender matemática? Ou realmente só alguns poucos? Muitas dessas afirmações já estão no inconsciente coletivo e popular, e são tidas como verdades absolutas, quando na verdade são frases ditas ao vento, vazias de significado se olhadas à luz de um espírito científico. Alguns de nós professores, mesmo sendo comprometidos com o ensino, acabamos acreditando nelas, e infelizmente acabamos por pautar nosso trabalho, com essa perspectiva, com esse olhar.
Parece-me bom e cômodo ensinar matemática, ou qualquer outro conteúdo, pra quem aprende com facilidade. Mas por que alguns têm facilidade em aprender e outros não? Essa é umas das questões relevantes, que urgem por nossa reflexão.
É comum ouvirmos a frase: “Ah! Professor não levo jeito pra Matemática”, justificando fracasso em provas ou não compreensão de um ou outro assunto da Matemática. Esse “não levo jeito” quer significar: “não tenho aptidão”. Será inata, essa aptidão? Pessoas têm ou não aptidão para a Música, para a Poesia. Mas, diferentemente da Matemática, Música e Poesia, ou qualquer outra atividade que supostamente exija aptidão específica, não são ensinadas compulsória e indiscriminadamente a todas as pessoas, em todas as escolas.
O que vemos é a confusão entre “interesse” e “aptidão” para a Matemática. Esse interesse pode ser: construído, alicerçado e desenvolvido. O professor, munido da linguagem adequada, sensibilidade, boa vontade, paciência e dedicação, pode gradativamente levar seus alunos a elevados níveis de conhecimento matemático e a uma utilização sistemática desse conhecimento. E até mesmo em alguns casos, a Matemáticos ou professores de Matemática, dependendo dos respectivos “interesses”, não “aptidões”.
A dificuldade em aprender está também no ambiente “escola”. Do contrário, tanta gente não aprenderia, em outros espaços, a lidar com valores monetários (ambulantes), com geometria (pedreiros), estando distantes da escola. Quaisquer que sejam as respostas àquelas questões, se houverem, valerão a pena. Entender os motivos dessa aversão à matemática e à escola será um primeiro passo, dos muitos que precisam ser dados no sentido conhecer essa “moléstia’ e tentar sua cura, que é transformar nossas escolas, torná-las eficientes, torná-las públicas (no sentido lato da palavra), uma escola de todos e para todos. Professores, pesquisadores, estudiosos, educadores de um modo geral saem com ganhos em suas diversas áreas de atuação, se buscarem o cerne dessas e de outras questões, se não se prenderem a preconceitos, se pautarem suas práticas na busca de soluções, se pautarem suas práticas na busca de um sonho possível, a nossa educação básica, por que não de nossa escola pública.
Ivanil do Carmo Silva Gomes é licenciado em Matemática pela UFMG.

Um comentário:

  1. Roberval e demais visitem meu blog:http://www.ivanilmatematica.blogspot.com/ e talvez possamos trocar mais informações e opniões. Saudações!!!

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